O congelamento (criopreservação) de óvulos sempre foi um desafio na área da reprodução assistida. Os espermatozóides são congelados com sucesso há mais de 50 anos, e os embriões há 15. Já os óvulos esbarravam em dificuldades técnicas. Lembram que já falei que óvulo é uma das maiores células do corpo humano? Além de ser uma célula volumosa, ela contém uma grande quantidade de água, o que a torna mais suscetível aos danos causados pelos cristais de gelo que se formarão durante o processo de congelamento (leia mais aqui).
Outro problema é que a técnica de congelamento utilizada até alguns anos atrás era lenta e favorecia a formação cristais de gelo no óvulo. Muitos não suportavam o processo de descongelamento e “estouravam”. Para você ter uma idéia, apenas uma média de 10% sobrevivia ao processo. Além disso, após esse descongelamento apareciam alterações cromossômicas que inviabilizavam a utilização do óvulo nos tratamentos de reprodução assistida.

A medicina buscou aperfeiçoar a criopreservação e surgiu a “vitrificação”. Nesse método, o óvulo é congelado rapidamente e envolto por uma substância gelatinosa (um crioprotetor), diminuindo a possibilidade de formação de cristais. Até 95% dos óvulos vitrificados superam o processo do descongelamento, embora estes ofereçam uma taxa de gravidez menor que a de óvulos frescos.

Antes do congelamento, as pacientes, através de medicamentos, são submetidas à hiperestimulação ovariana para que produzam uma quantidade extra de óvulos. Estes são extraídos por punção com uma agulha guiada pelo ultrassom. O processo até aqui é idêntico a uma fertilização in vitro. O que muda é que em vez de ser fertilizado, o óvulo é analisado e os saudáveis são congelados. A temperatura é, então, reduzida de 37°C (temperatura do corpo humano) à temperatura do nitrogênio líquido (-196°C), que permite um armazenamento por tempo indefinido em contâineres com isolamento térmico. Após o descongelamento, os óvulos são fecundados por meio da técnica de fertilização ICSI, onde um único espermatozóide é injetado no óvulo.

A criopreservação é uma técnica importante principalmente para as paciente que correm o risco de se tornarem inférteis, a exemplo daquelas submetidas à quimio ou radioterapia, as que vão se submeter a uma cirurgia radical ou que, por vários motivos, poderão ter seus ovários retirados. Para essas mulheres, o congelamento dos óvulos é a única chance de serem mães biológicas. Por isso, nesses casos, indico o tratamento sem restrição.

No entanto, o congelamento de óvulos não pode ser visto como a tábua de salvação da fertilidade feminina. Minhas amigas, não podemos parar o tempo. Infelizmente, o relógio está correndo contra vocês. Em vez de apostarem nesse método, vocês deveriam buscar engravidar ainda em idade fértil. Volto a repetir: a melhor idade para ser mãe é até os 30 anos. E é sobre isso que conversaremos na próxima semana.